A poética da reescritura em As Cidades Invisíveis de Italo Calvino

Publicado em 1972, As cidades invisíveis tornou-se uma referência na história da narrativa do século XX. O romance, na verdade um anti-romance, misto de apólogo, aforisma e poema em prosa, é reputado por muitos a obra-prima de Italo Calvino e uma das obras mais fascinantes da literatura italiana dos últimos tempos. O livro é uma releitura em versão moderna de Il Milione, ou O livro das maravilhas: a descrição do mundo, mas o Marco Polo de Calvino, diferentemente daquele histórico, é um Marco Polo distorcido, atualizado, ficcionalizado, geométrico e labiríntico.
Seus espaços não são geográficos, mas mentais, e sua grande dificuldade é descrever o mundo, cujo significado é variável e inapreensível. Parodiando a história, a trama de viagem e a caracterização do famoso relato medieval, Calvino recria um texto em que as cidades, fortemente marcadas pela subjetividade, aparecem sempre ambíguas e contraditórias, com diversas faces que podem se reduplicar ao infinito.