Quando de meu doutorado em Letras na USP, por força da pesquisa sobre escritores particularmente prolíficos, fui parar nos arquivos do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) em busca das cartas de Mário de Andrade, que me levaram às de Manuel Bandeira e Drummond entre outros. Delas, fui parar na correspondência entre escritores portugueses, particularmente da geração realista portuguesa de 1870, em particular nas cartas de Eça de Queiroz. Não se tratava de curiosidade por assuntos privados, nem de amor por segredos guardados a dois. Ocorre que os autores, até bem recentemente, empregavam e muito a correspondência por carta para tratar de assuntos que se ajustavam melhor no gênero epistolar do que em outros – particularmente aqueles escritores que não chegaram ou chegaram tardiamente ao teclado do computador.
Este O melhor das horas e da vida – cartas e poemas de Marcos Rey oferece a leitores e pesquisadores uma nova frente de prospecção do universo do escritor paulistano que, tendo iniciado sua carreira no teclado de uma maquina de escrever mecânica, produziu roteiros para televisão e cinema já de frente para um monitor de computador – essa máquina que apaga os vestígios, as dúvidas e o caminho percorrido do rascunho ao original preparado para a edição. Neste volume, Linda Palma oferece ao leitor o homem sensível que foi seu parceiro de todas as horas e da vida, mas também um veio riquíssimo – composto de cartas e insuspeitáveis poemas – que, somado ao dos roteiros para televisão e cinema, acrescenta ainda maior complexidade a um autor reconhecidamente polígrafo, ao qual o título “multimidiático”, no melhor sentido, se ajusta à perfeição.
Jeosafá F. Gonçalves
Doutor em Letras pela USP
Autor do ciclo de romances sobre a cidade São Paulo
Era uma vez no meu bairro
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